sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Eternos Amantes

A chuva, desesperada, denunciava a batalha de um ano que começava. Açoitada pela vida, ansiava um recomeço. A lua fitava-a com indagação. O melancólico reveillon crucificava a garota. O mar a engolia, na escuridão dos pensamentos.

Um casal ferozmente apaixonados fez aquele olhar, vazio, explodir em imensa dor. A cobiça daquela paixão a alcançou. Não havia mais nada na mente daquela garota. Ela queria apenas poder sentir o que aqueles dois sentiam. Toda emoção que emanava deles. Aquele calor, que mesmo de longe, ela podia sentir. Aquilo era a única coisa que ela desejava naquele momento.

O sentimento de posse foi se aflorando dentro da garota. A determinação a tomou completamente. Não havia nada que ela quisesse mais do que estar no lugar daquela mulher. Ela respirou fundo e, com uma coragem surpreendente, foi atrás do que queria.
Enquanto caminhava percebeu que o casal vinha em sua direção. Notou também que eles haviam, sequer, percebido que ela estava ali. Estava tão determinada que nada a podeira abalar. “Olá, você pode me ajudar?” Ela perguntou como se não houvesse outra pessoa, além da menina, que estava com quem ela desejava. O casal foi muito simpático. Ajudaram a garota que estava, supostamente, perdida. Sorte, destino ou acaso? Não sei. Mas eles estavam hospedados no mesmo hotel. Aquela viagem que duraria apenas dois dias se prolongou. O casal iria passar vários dias na cidade.

Ela não perdeu a oportunidade de se aproximar. Sua estratégia era perfeita, iria conquistar a namorada. Depois seria muito fácil conseguir o que queria. Mais de uma semana se passou. Ninguém imaginaria que haviam se conhecido a tão pouco tempo, elas pareciam melhores amigas. Com o tempo ela começou a se aproximar do rapaz, sorrateiramente. Sem que, nem mesmo ele, percebesse suas reais intenções. Embora aquilo fosse o que ela mais quisesse, um sentimento de culpa veio atona. Ela o ignorou. Continuou com seu plano.

Certo dia a namorada a confessou que aquele relacionamento não estava muito bom. Que o parceiro parecia que não estava tão apaixonado como a poucos dias atrás. Seu olhar se iluminou. Aquela era a notícia perfeita, sinal de que seu plano estava dando certo. Um frio na barriga. Uma sensação muito estranha. Ela não se preocupou, sabia que estava perto de conseguir o seu troféu.

Faltavam apenas dois dias pra eles partirem. A garota devia agir rápido. Naquela noite. Ela ficou a tarde inteira trancada no quarto. Não sabia como iria fazer aquilo. Foi mais fácil do que ela pensava. Um telefonema a surpreendeu. De repente a ansiedade e o medo tomaram conta daquela garota. Por mais que tivesse conseguido o que queria, sabia que não era uma coisa boa de se fazer. Estava traindo quem, ingenuamente, confiou em uma pessoa que mal conhecia. Tomou coragem e esperou.

Uma batida de leve na porta. O medo também estava estampado do rosto dele. Os dois estavam em completa sintonia. Meio atrapalhados, afinal, com essa idade, aquela seria a primeira experiência perigosa que viveriam. Em poucos minutos ela sentiu aquela paixão, que tanto lutou pra conseguir. No começo não parecia muito verdadeiro, talvez fosse o medo. Mas depois a entrega foi tão grande, que nada poderia os impedir. O fogo invadiu completamente aquele quarto de hotel. Dava pra ouvir o martelar frenético dos corações. A intensidade dos corpos molhados, fazia com que tudo em volta parecesse nada. Aquela foi a melhor tarde da vida daquela garota. Perto daquilo, tudo o que ela havia vivido, era como se não existisse.

A vida teria que continuar, porém nunca mais seria a mesma. Ela foi embora do hotel na mesma noite. A namora do rapaz nunca mais a viu, muito embora isso não fosse verdade, ficou muito desapontada por ela não ter se despedido dos dois. Ela havia, sim, se despedido, do rapaz. Muito mais que isso. Eles aviam feito um pacto. Todos os anos seguintes os dois se encontraram, sempre no mesmo dia, no mesmo hotel, no mesmo quarto. Essa, era a única parte conhecida da vida dos dois eternos amantes.

- Thereza Rastro

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